Ser verde ou sustentável tem uma má
reputação por ser caro. Alimentos biológicos, carros elétricos ou roupas
de origem sustentável são normalmente mais caros.
Comprar painéis solares ou um veículo
elétrico podem ser grandes coisas para ajudar o planeta, mas não são
viáveis para a maior parte das pessoas.
Se moras num apartamento, há muitas
maneiras de viver de forma mais sustentável, que te vão realmente fazer
poupar dinheiro. Vê algumas dicas do NOCTULA Channel:
Mesmo quando desligados, os aparelhos eletrónicos, como computadores, impressoras ou cafeteiras, usam “energia fantasma“, que também conta para o teu consumo de energia (e para a factura também!). Investigadores do Lawrence Berkley National Laboratory descobriram que essa energia é responsável por 5 % do consumo doméstico.
2. Baixa a temperatura do aquecimento e sobe a do arrefecimento
É mais eficaz aquecer o teu corpo que a
sala toda, por isso, no inverno, veste mais uma camisola e baixa o
aquecimento. No verão, liga uma ventoinha e bebe um chá gelado em vez de
colocares o ar condicionado no máximo.
3. Muda as lâmpadas para LED
As lâmpadas de LED duram 25 vezes mais
do que lâmpadas incandescentes e três vezes mais do que as lâmpadas
fluorescentes compactas, e agora são muito mais baratas. Quando as
lâmpadas de tua casa de fundirem muda para LED.
4. Compra legumes e fruta da época
Vai ao mercado da tua cidade e compra
diretamente ao produtor. Muitas vezes os legumes e frutas são mais
baratos e estás a diminuir o consumo de combustível necessário para
transportar os alimentos de uns sítios para os outros, e de energia para
manter os produtos frescos.
5. Come menos carne
O impacto ambiental da produção de carne
é grande, devido principalmente à produção de metano (gás com efeito de
estufa) gerada pelos animais. Comer uma ou duas vezes por semana uma
refeição vegetariana, substituindo a carne por feijão ou lentilhas, será
também mais económico.
Partilhar boleias é outro método para
poupar dinheiro e diminuir as emissões de poluentes para a atmosfera.
Encontra um colega que viva perto de ti ou que faça um percurso
semelhante e partilhem o carro.
Se não conheces ninguém podes sempre inscrever-te num site como o www.blablacar.pt.
7. Para de comprar garrafas de água
Arranja uma garrafa reutilizável e
enche-a com água da torneira em vez de comprares garrafas de plástico. A
água engarrafada é muito mais cara que a água da torneira e as garrafas
de plástico geram muitos resíduos.
8. Faz os próprios produtos de limpeza
Fazer os produtos de limpeza em casa
pode parecer difícil, mas na verdade são precisos apenas alguns
ingredientes simples, como bicarbonato de sódio, vinagre, limão e sabão.
Para além de poupar algum dinheiro, evitar os produtos químicos nas
limpezas melhora também a qualidade do ar dentro de casa.
Vê neste site algumas receitas para detergentes, champô, sabonetes e até pasta dentífrica: Receitas de Produtos Caseiros.
9. Compra coisas em segunda mão
Hoje em dia as lojas em segunda mão
estão por toda a parte, em vez de deitares no lixo algo que já não usas
porque não tentar vendê-la numa loja em segunda-mão? E em vez de comprar
novo, porque não comprar usado?
Gastas menos dinheiro e ao comprar menos coisas novas diminuis a quantidade de resíduos.
10. Ou arranja de graça
Se vais precisar de alguma coisa só um
vez tenta pedir emprestado a um amigo ou vai à biblioteca municipal
requisitar um livro em vez de comprar.
Há pessoas dispostas a trocar coisas que
já não usam ou não precisam por outras. Encontra o que procuras e doa o
que já não queres no site troca-se.pt.
Vê quanto podes poupar com algumas mudanças no teu dia-a-dia no site da Visão.
Conceito aplicado pela indústria de lâmpadas
desde os anos 20 do século passado, a “obsolescência programada” é tema
relevante para a reflexão sobre consumo e tecnologia. A cineasta alemã
Cosima Dannoritzer e o artista brasileiro Lucas Bambozzi, entre outros,
discutem o assunto em suas obras.
Desde a Revolução Industrial, a relação entre consumo, indivíduo e
sociedade tem sido uma das principais discussões dentro das Ciências
Humanas, que buscam, desde então, entender e explicar como o novo modo
de produção transforma e afeta a sociedade moderna. Com a produção em
massa, surgia também a necessidade da indústria de conhecer melhor o
perfil dos seus consumidores e, principalmente, de criar novas maneiras
para incentivá-los a comprar cada vez mais. Foi na década de 1920 que a
indústria de lâmpadas decidiu então aplicar o conceito de “obsolescência
programada” na linha de produção, o que reduz a vida útil dos produtos
para que o consumidor tenha de trocá-lo com mais frequência.
A ideia de diminuir o tempo de uso de produtos apareceu pela primeira
vez em 1925, quando o cartel Phoebus, formado pelos principais
fabricantes de lâmpadas da Europa e dos Estados Unidos, decidiu reduzir o
tempo de duração de suas lâmpadas de 2.500 para 1.000 horas, a fim de
aumentar o lucro das indústrias filiadas. No entanto, o conceito de
“obsolescência programada” só viria a ser criado mais tarde pelo
norte-americano Bernard London, um investidor imobiliário, que sugeria a
obrigatoriedade de uma vida útil mais reduzida para os produtos, como
forma de impulsionar a economia, que passava pela crise de 1929.
Considerada um tanto radical para a época, a ideia de London não foi
colocada em prática no início da década de 1930, mas sim durante a
década de 1950 pelo designer industrial Brooks Stevens, que já era
famoso por seus desenhos modernos no desenvolvimento de produtos.
Stevens defendia veementemente a obsolescência programada e argumentava
que esta dependia do consumidor: todos os consumidores desejam novos
produtos no mercado e são livres para decidir comprá-los ou não,
independentemente da duração dos mesmos. Com a redução da vida útil dos
produtos e o desenvolvimento da propaganda, o desejo de possuir o novo
era cada vez mais incitado no consumidor, que deixava de comprar por
necessidade para consumir por hábito.
Além da relação do consumidor com o produto, o professor da Universidade
de Weimar, Markus Krajewski Krajewski, afirma que outro marco da
obsolescência programada consiste na qualidade dos produtos, que antes
eram fabricados para serem reutilizados e consertados e, desde a
propagação do conceito na indústria, são produzidos para que sejam
substituídos o mais rápido possível. “Se uma mesa não quebra sozinha,
dentro de um certo tempo de uso, o próprio fabricante estipula seu prazo
de validade”, explica Krajewski. Segundo o professor, é provável que
rachaduras sejam inseridas na madeira do pé da mesa de forma
imperceptível para o consumidor, que enxerga as mesmas como um desgaste
natural do próprio objeto e não um defeito proposital para reduzir a
vida útil do produto.
Cultura de consumo e produção de lixo eletrônico
A redução da vida útil dos produtos chamou a atenção da cineasta alemã
Cosima Dannoritzer, que decidiu investigar os rumores comumente
disseminados pelos mais velhos de que “antigamente as coisas duravam
mais”. Para surpresa de Dannoritzer, “a verdade era ainda mais estranha
do que os próprios rumores”. Em seu documentário The Light Bulb Conspiracy (2010 – A Obsolescência Programada),
a cineasta percorre vários países para tentar compreender a influência
deste conceito na nossa sociedade. Ela mostra como este modo de produção
e de consumo mudou a relação do indivíduo com o produto, gerou inúmeras
consequências ambientais e também propiciou a ascensão de resistências
dentro da sociedade contra o consumismo ilimitado.
No documentário, Dannoritzer reflete sobre as relações de poder
sócio-econômico dentro deste sistema de consumo e suas consequências
ambientais. Uma delas é o crescente número de resíduos eletrônicos –
computadores, celulares, chips etc – que, muitas vezes, são
transportados e despejados em países em desenvolvimento, embora haja um
tratado que proíba este tipo de prática. Em seu documentário, a cineasta
registra tal descaso ao mostrar Agbogbloshie, no subúrbio de Accra, em
Gana, que tornou-se um depósito de lixo eletrônico de países
desenvolvidos como Dinamarca, Alemanha, Estados Unidos e Reino Unido,
que enviam seus resíduos sob o pretexto de ajuda ao país de “Terceiro
Mundo”, alegando que estes eletrônicos ainda podem ser reutilizados. No
entanto, Dannoritzer aponta em seu filme que mais de 80% desses resíduos
são, de fato, lixo. E não podem mais ser reciclados ou sequer
reaproveitados.
A produção de resíduos eletrônicos está diretamente relacionada ao poder
econômico: os países que possuem maior renda, consomem mais e,
consequentemente, produzem mais lixo eletrônico. Em uma rodada de
discussões dentro da Rio +20 sobre a produção desses resíduos sólidos (Lixo eletrônico: impactos e transformações - Roda de Conversa Rio+20),
a especialista do Departamento de Educação Ambiental do Ministério do
Meio Ambiente, Andréa Caresteada, reforçou esta relação ao falar sobre o
crescimento da classe média no Brasil que, segundo ela, já alcançou o
número de 100 milhões de pessoas. A especialista relata que, com o
aumento de poder de compra, cresceu também o consumo de
eletroeletrônicos que correspondem a eletrodomésticos, computadores e
celulares, por exemplo. Caresteada admite, no site do evento, haver uma
disparidade entre o poder de aquisição e educação ambiental, pois ainda
falta consciência quanto à produção de resíduos eletrônicos e ao hábito
de consumo.
De acordo com Krajewski, uma das grandes diferenças entre países
industrializados, como a Alemanha e os Estados Unidos, e os emergentes,
como a China e o Brasil, é o fato de a maior tradição da obsolescência
programada nos primeiros possibilitar a instituição de um movimento de
resistência, tanto na esfera política quanto na cultural. Na arquitetura
e em determinados setores da manufatura, na Alemanha, o professor
observa, por exemplo, que ainda há preferência pela durabilidade em vez
do desgaste rápido de materiais através do “Manufactum-Prinzip”
(princípio de manufatura), termo criado por uma cadeia de lojas de mesmo
nome, cujo slogan é “Es gibt die noch, die guten Dinge” (Elas ainda
existem, as coisas boas).
Porém, o documentário de Dannoritzer indica que ainda há falta de
responsabilidade social de países industrializados em relação a resíduos
eletrônicos. Nas cenas que retratam o lixão de Agbogbloshie, o ativista
ambiental Mike Anane mostra o local onde os restos de computadores,
impressoras e outros eletrônicos são despejados. Ele cresceu na região e
conta que, onde agora há somente lixo, antes passava o rio Odaw. No
local havia uma comunidade de pescadores, onde ele próprio passou parte
de sua infância. O documentário de Dannoritzer mostra que hoje, no lugar
das crianças e dos pescadores, jovens de famílias pobres queimam os
objetos despejados para retirar o plástico e guardar o metal, para que
este seja vendido e possivelmente reutilizado.
Tecnologia, arte e resistência
A professora do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da
Universidade Federal da Bahia, Karla Brunet, afirma que há grande
descaso com as consequências sociais e ambientais causadas pelo
consumismo desenfreado. Ela lembra que o conceito de obsolescência
programada, criado no início do século XX, continua o mesmo, mas é hoje
utilizado sob outra ideia de tempo: “Nossa vida está mais acelerada,
então a própria vida útil de um produto está menor, pois tudo está mais
rápido, queremos tudo mais rápido. Um produto que no passado tinha vida
útil de quatro anos, certamente dura menos hoje em dia”, explica Brunet.
Como o novo torna-se ultrapassado em pouco tempo, há sempre maior
necessidade de comprar para que possamos ter a sensação de pertencer a
determinado grupo social e também de estar em dia com a tecnologia.
Brunet considera a publicidade uma das principais ferramentas para
incitar o desejo de consumo na sociedade atual, por ela ser realizada de
forma mais sutil que no passado. Muitos usuários do Facebook, por
exemplo, “curtem” páginas de marcas, sob a impressão de que estão
afirmando algo de si mesmos, quando na verdade estão fazendo propaganda
para a própria marca. A publicidade e a constante produção de novos
modelos de tecnologia instigam o desejo de consumir, porque elas geram a
sensação no consumidor de que ele “precisa” de determinado objeto e, se
comprá-lo, terá uma sensação de satisfação e pertencimento a um
determinado grupo social.
É o que acontece com celulares. As empresas lançam modelos
incessantemente e, em um ano, o aparelho já é considerado ultrapassado. O
artista Lucas Bambozzi aborda o tema em sua obra, criticando
diretamente o consumismo regrado pela obsolescência programada. Em
vários trabalhos, como Da Obsolescência Programada (2009), Mobile Crash (2010) e Das Coisas Quebradas
(2012), Bambozzi utiliza a tecnologia de sensores para captar ondas
eletromagnéticas de celulares, que ativam o funcionamento de diferentes
máquinas. Segundo o artista, sua obra tenta discutir “a instabilidade
das mídias, as oscilações de linguagem percebidas nos meios de produção
técnica de imagem, o caráter anacrônico dos meios audiovisuais em tempos
de portabilidade, o consumismo e o fetiche ligado aos sistemas
tecnológicos”.
Em Das Coisas Quebradas (2012), Bambozzi reflete sobre
tecnologias de consumo, lembrando que o consumidor também faz parte
desse sistema. Na “instalação-máquina”, um sensor capta as ondas
eletromagnéticas de celulares do público, para ativar uma máquina que
despeja celulares (um de cada vez) em de um compartimento, onde são
esmagados. Sendo assim, quanto mais as pessoas no ambiente utilizam o
celular, maior é o funcionamento da máquina e mais celulares são
destruídos – numa crítica direta ao papel do próprio consumidor na
cultura do uso e rápido descarte, regido pela obsolescência programada.
Neste contexto, a arte passa a exercer uma função de resistência ao
consumismo desenfreado, pois a partir do momento em que o observador se
depara com tal crítica, ele começa automaticamente a refletir sobre seu
próprio hábito de consumo e a adquir consciência de que também faz
parte do mecanismo deste sistema. Dannoritzer acredita que precisamos
nos afastar deste consumismo para evitar o esgotamento de fontes
naturais e reduzir a produção de lixo. Para ela, já há várias pessoas
que “estão se afastando disso com atitudes diárias, pois percebem que o
consumo não é a única fonte de felicidade”. Já Krajewski é mais
pessimista, ao apontar que “as empresas lucram demais com este sistema
para mudá-lo, mesmo aquelas pseudo-verdes, que existem sob a camuflagem
do ecologicamente correto”. Ainda assim, ele defende que os próprios
consumidores têm o poder de evitar determinados produtos e, assim, agir
com consciência dentro da atual sociedade de consumo: “Juntos somos
muitos”, lembra o professor.